China relembra dez anos do terremoto de Sichuan

A China relembra neste sábado o 10º aniversário do terremoto que matou milhares de pessoas na província de Sichuan e que marcou a história recente do país

Por AFP

Flores foram deixadas na frente do memorial das vítimas  do terremoto de 2008
Flores foram deixadas na frente do memorial das vítimas do terremoto de 2008 -

Pequim - A China relembra um terremoto de magnitude 7,9 abalou Sichuan, província do sudoeste do país, provocando a morte, ou o desaparecimento, de 87 mil pessoas, entre elas 5.335 crianças.

A catástrofe pôs o país de luto, mas também deflagrou duras críticas às autoridades, quando se revelou que muitas das 7.000 escolas que desabaram haviam sido construídas sem a solidez necessária - provavelmente, por causa da corrupção.

Dez anos depois, o governo ainda não havia investigado essas acusações, e os pais das vítimas continuam esperando respostas para saber o motivo pelo qual tantas escolas foram destruídas, enquanto muitos prédios que estavam a seu lado resistiram.

Neste sábado, acontecia na cidade de Yingxiu uma cerimônia de recordação nas ruínas de uma escola, preservada como um memorial e onde se ergue a escultura de um relógio gigante que lembra o dia e a hora do terremoto.

Não houve transmissão ao vivo do evento e, em seu lugar, a televisão pública CCTV optou por emitir imagens ao vivo das escolas reconstruídas, sem fazer referência a mortos e feridos.

O terremoto foi registrado às 14h28 locais, mas, neste sábado, passadas as 15h, o líder do país ainda não havia feito nenhum pronunciamento pela data, nem houve um minuto de silêncio oficial.

O presidente Xi Jinping enviou apenas uma carta para uma conferência sobre terremotos organizada por ocasião do aniversário da tragédia, informou a agência de notícias oficial Xinhua. Nela, prometeu que o país "aumentará suas capacidades de prevenção de catástrofes".

O sismo de 2008 é, provavelmente, um dos acontecimentos que marcarão a história recente da China e inspirou uma geração de jornalistas e ativistas, como o artista Ai Weiwei, que organizou uma investigação sobre as escolas que caíram.

A onda de doações para ajudar as vítimas também contribuiu para popularizar as fundações beneficentes, até então pouco comuns na China.

Além disso, a catástrofe uniu os chineses e criou um novo sentimento de identidade nacional, estimulado naquele mesmo ano pela realização dos Jogos Olímpicos.

As autoridades não tardaram a reprimir esse espírito, porém, e a prender os jornalistas e quem quer que criticasse o governo por sua gestão do terremoto. O próprio Ai Weiwei foi maltratado pela Polícia e detido durante meses. Acabou deixando o país.

O impulso inicial de doações também se viu prejudicado pelos escândalos de desvio de recursos, que envolveram, em particular, a Cruz Vermelha.

Dez anos depois, a maioria das cidades e povoados de Sichuan que haviam sido destruídos foi reconstruída, depois que o governo investiu milhões de iuanes.

As zonas mais remotas da província têm agora novas estradas e rede elétrica que as conectam com Chengdu, a capital provincial. Embora as feridas continuem abertas para as famílias, o governo de Pequim transformou a catástrofe em um elemento de propaganda.

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