O que Kaysar n�o explicou sobre a S�ria

S�rio que participou do BBB18 temia falar demais e colocar em risco a fam�lia que l� deixou

Por V�nia Alves Consultora de Comunica��o de M�dicos Sem Fronteiras

Vania Alves -

Poucos dias antes da 18ª edição do Big Brother Brasil chegar ao fim, Kaysar Dadour, o participante sírio, gaguejava na tentativa de explicar para uma de suas colegas de programa a guerra em curso em seu país. A situação é mesmo muito complexa do ponto de vista geopolítico e o rapaz temia falar demais e colocar em risco a família que lá deixou.

As questões sírias pioram a cada dia e envolvem disputas de poder e território por diferentes facções apoiadas por grandes potências, como Estados Unidos e Rússia. Não menos complexos são os impactos dessa guerra na vida da população.

De acordo com dados do Observatório Sírio de Direitos Humanos, mais de meio milhão de pessoas já morreu em decorrência da guerra, desde seu início, há sete anos. Quase impossível encontrar no país quem não tenha perdido alguém da família nos bombardeios.

Assim como Kaysar, quase 6 milhões de pessoas deixaram a Síria em busca de segurança. A maior parte se manteve nos países fronteiriços Líbano, Jordânia e Turquia, porque não tinha dinheiro para uma viagem mais longa ou porque alimentava a esperança de retornar para suas casas em breve.

Outras cerca de 5,6 milhões de pessoas se mudaram dentro do próprio país. Somados, esses números significam que mais da metade dos 22 milhões de habitantes que viviam no país se viram, como o 'brother', obrigada a abandonar suas casas e, muitas vezes, suas próprias famílias para sobreviver aos horrores da guerra.

As condições de saúde daqueles que ficam se deterioram à medida que os anos de guerra vão se acumulando. Muitas unidades de saúde foram bombardeadas e o acesso às instalações médicas que restam é difícil. Já não basta sobreviver a um bombardeio, é preciso ter sorte para encontrar um hospital em funcionamento para buscar ajuda.

Desde o início do conflito em 2011, Médicos Sem Fronteiras (MSF) solicitou permissão às autoridades da capital, Damasco, para levar assistência médica para todas as partes da Síria, mas, até o momento, não obteve. Como resultado, o trabalho de MSF na Síria hoje se limita a quatro projetos instalados em regiões controladas por forças da oposição e ao apoio a redes médicas, realizado sem consentimento oficial.

Na prática, no início do conflito, isso significou improvisar unidades de atendimento e até salas de cirurgias em cavernas e porões clandestinos. Com o passar dos anos e o aumento dos riscos, a alternativa foi manter o apoio a hospitais dentro do país, enviando suprimentos e acompanhando de longe o dia-a-dia de equipes médicas sírias, compartilhando diagnósticos, tratamentos, prescrições.

Como uma organização que se orgulha de estar próxima de nossos pacientes, não foi fácil para as equipes que estavam trabalhando remotamente com os médicos da região de Ghouta Oriental, por exemplo, aceitar que somente poderiam apoiar os colegas por meio de conversas no WhatsApp e suprimentos reduzidos, sabendo que isso não era suficiente para responder, nem de longe, a todas as necessidades dos pacientes. Pior ainda foi quando os bombardeios destruíram tantos hospitais que o apoio de MSF tornou-se quase impossível.

No norte do país, a situação está mais calma, mas na volta para a casa a população se depara com outros riscos: minas terrestres que fazem centenas de feridos e levam, muitas vezes, homens, mulheres e, principalmente, crianças à amputação de seus membros. A unidade de MSF em Raqqa atende cerca de 200 pessoas por mês com esse tipo de ferimento.

O mais triste de tudo isso é que não há perspectivas de melhora imediata na situação do povo sírio. A Organizações das Nações Unidas (ONU) estima que 13,1 milhões de pessoas necessitarão de algum tipo de ajuda humanitária na Síria em 2018. Os conterrâneos de Kaysar Dadour não podem cair no esquecimento.

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Vania Alves Divulga��0 MSF
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