CSN reimplanta turno de 8h para seus funcion�rios em vota��o apertada

Oposi��o sindical lamenta 'rolo compressor sobre mortes de m�rtires'

Por O Dia

Rio - A Oposi��o Sindical Metal�rgica recorreu ao Minist�rio P�blico do Trabalho contra a volta do turno de seis horas de trabalho na Companhia Sider�rgica Nacional (CSN), em Volta Redonda, que havia sido conquistado �s custas do massacre de tr�s oper�rios da empresa (Willian, Walmir e Barroso) da empresa pelo Ex�rcito, durante a hist�rica greve de 1988.

O retorno de duas horas a mais di�rias foi aceita em pol�mica vota��o ocorrida nesta quinta-feira, na Pra�a Juarez Antunes, no Centro da cidade. Com aprova��o apertada, 2.022 (55,6%) metal�rgicos disseram sim � proposta, que j� havia sido rejeitada em tr�s pleitos anteriores, contra 1.742, que optaram pelo n�o (44%). Nulos e brancos somaram 0,7%.

Regresso do turno de oito horas foi decido em vota��o no Centro de Volta RedondaPaulo Dimas / Di�rio do Vale

Com o resultado homologado, o turno de oito horas dever� voltar a vigorar para quase 4 mil metal�rgicos nos pr�ximos dias. As negocia��es entre o Sindicato dos Metal�rgicos e representantes da CSN se arrastaram por cerca de quatro meses.

O acordo chancelado na vota��o prev� o pagamento de abono de R$ 3.500,00 em duas parcelas, sendo a primeira de R$ 2.000,00 em at� 5 dias �teis, e a outra de R$ 1.500,00, junto com o pagamento de maio de 2018. O montante ser� pago aos metal�rgicos que forem trabalhar no novo turno, nas datas do cr�dito. Os trabalhadores tamb�m receber�o cr�dito extra de R$ 500,00 no Cart�o Alimenta��o no dia 15 do pr�ximo m�s.

�Foi uma conquista do sindicato, que est� desgastado, com sabor de derrota. Pois nas vota��es anteriores, os trabalhadores, que foram pressionados ao extremo por suas chefias e pelo pr�prio sindicado, manifestaram ser contra o turno de oito horas. Passaram como um rolo compressor sobre a hist�ria que custou as vidas de tr�s m�rtires�, lamentou Erasmo Quricci, da Oposi��o Sindical, que prev� centenas de demiss�es com a nova rotina de trabalho.

Em 1988%2C o Ex�rcito invadiu a CSN para tentar por fim a greve geral dos metal�rgicos%2C culminando com a morte de tr�s oper�riosColetivo 9 de novembro / Divulga��o

�Ignoraram o assassinato de colegas, que com sangue haviam conquistado o turno de seis horas. Mas lutamos o bom combate. A luta vai continuar�, completou Tarc�sio Xavier, tamb�m da oposi��o, que espera que o MPT anule a vota��o, em detrimento das outras tr�s nega��es anteriores da proposta e a participa��o, �irregular�, no ponto de vista da oposi��o, de funcion�rios dos setores de a�os longos e embalagens, por exemplo. A oposi��o reclama da falta de participa��o de partidos e entidades de esquerda na luta contra o retorno do turno.

J� S�lvio Campos, presidente do sindicato, filiado � For�a Sindical, em entrevista a jornalistas da regi�o, garantiu que os trabalhadores �ficaram livres para escolher� a volta do turno de oito horas. �Essa foi a melhor proposta que conseguimos. Foram dias muito estressantes, nervosos. Rejeitamos as propostas deles na mesa diversas vezes�, argumentou Silvio Campos.

Entre os itens apresentados pela empresa, e aprovados em vota��o, tamb�m est�o previstos: A possibilidade de que os pr�prios colaboradores do turno escolham a escala de trabalho, conforme as op��es que poder�o ser colocadas � disposi��o, inclusive com a op��o de escala 4�1/ 4�1/ 4�2 com folga de 80 horas; atendimento do pleito do sindicato para que os pr�prios trabalhadores escolham os hor�rios de turno (em qualquer uma das op��es haver� uma hora de intervalo para refei��o e descanso); O compromisso de que um ano ap�s a implanta��o do turno de 8h, ocorra uma nova escolha ou revalida��o da escala e hor�rio escolhidos; a n�o redu��o de postos de trabalho em raz�o da implanta��o do turno, com a empresa mantendo apenas seu turnover normal.

Em nota divulgada na quinta-feira, a CSN alegou que com o regresso do turno de oito horas, haver� aumento da competitividade na produ��o. �Este regime (de oito horas) e outros semelhantes (de 8h e 12h) j� s�o adotados por todas as concorrentes da CSN. A mudan�a proposta deve alavancar a produtividade e a competitividade da empresa, e garantir a viabilidade operacional da Usina Presidente Vargas�, diz um trecho da nota, encerrada com a frase: �A CSN parabeniza os colaboradores por esta aprova��o�.

Mem�ria

Os funcion�rios da CSN entraram em greve no dia 7 de novembro de 1988. Na pauta de reivindica��es, os oper�rios pediam a implementa��o do turno de seis horas, reposi��o de sal�rios usurpados por planos econ�micos e reintegra��o dos demitidos por atua��o sindical. A greve atraiu toda a comunidade de Volta Redonda, que se posicionou em favor dos trabalhadores, que j� estavam sendo apoiados pela Igreja Cat�lica, atrav�s do ent�o bispo dom Waldyr Calheiros, que ficou conhecido com �o bispo vermelho�.

No dia 9 de novembro, soldados do Ex�rcito de v�rios quart�is do estado, principalmente de Barra mansa, e do Batalh�o de Choque da Pol�cia Militar do Rio de Janeiro, dispersaram uma manifesta��o em frente ao Escrit�rio Central da CSN e invadiram a usina.

O DIA revelou%2C atrav�s de documentos%2C dados do caso h� mais de 20 anosReprodu��o

Na invas�o, foram assassinados William Fernandes Leite, 22 anos, e Valmir Freitas Monteiro, 27 anos, com tiros de metralhadoras, e Carlos Augusto Barroso, 19, que teve o cr�nio esmagado. Em consequ�ncia de um forte golpe desferido por um soldado com o cabo de uma metralhadora, o c�rebro de Barroso, que j� estava rendido e ca�do na hora do crime, foi achado por colegas de trabalho, no ch�o do p�tio da empresa, conforme o DIA revelou, atrav�s de documentos, com exclusividade, uma d�cada depois, na mat�ria intitulada �O Segredo Guardado por Dez Anos�.

Mesmo ap�s os assassinatos e v�rias pris�es, a greve continuou at� o dia 23 de novembro. Na �poca, os trabalhadores conquistaram todas as suas reivindica��es, que hoje est�o amea�adas. A cobertura da greve de 1988 rendeu ao DIA seu primeiro Pr�mio Esso da hist�ria.

No dia 1� de maio do ano seguinte, com a presen�a do ent�o presidente nacional da CUT, Jair Meneguelli, foi erguido na Pra�a Juarez Antunes, memorial em homenagem aos tr�s oper�rios. Mas horas depois o monumento, projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyr , foi explodido por uma potente bomba. O memorial foi colocado de p� novamente, mas, a pedido de Oscar, carrega at� hoje as marcas da viol�ncia da explos�o.

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