Encontro debate a intervenção federal no Rio

Pesquisador defende que violência afeta saúde de moradores das comunidades

Por Agência Brasil

Incursão das Forças Armadas  na Vila Kenedy
Incursão das Forças Armadas na Vila Kenedy -

Rio - Pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), defensores dos direitos humanos, profissionais da saúde e moradores de comunidades se reuniram, nesta segunda-feira, para debater questões relacionadas à intervenção federal na segurança pública no Rio de Janeiro. Durante o encontro, foi elaborada uma lista com algumas medidas a serem colocadas em prática. Entre elas, estão reuniões com agentes comunitários de saúde para debater a rotina na intervenção, campanhas contra o racismo e iniciativas para divulgar canais de denúncias de violações de direitos.

A Fiocruz deverá desenvolver pesquisas e um monitoramento das comunidades mais próximas, Manguinhos e Maré, ambas na Zona Norte da cidade.

De acordo com o pesquisador Hermano Albuquerque de Castro, diretor da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) da Fiocruz e mediador do debate, o crescimento da violência tem relação com o aumento de determinadas doenças. A situação também dificulta o trabalho dos profissionais da área.

"Praticamente todos os dias temos tido notícias de violência e de morte. E esse é também um debate da saúde pública, que vem sendo profundamente afetada. Os agentes de saúde não conseguem trabalhar nos territórios. As populações ficam desassistidas e são penalizadas. Muitos não saem de casa. São diferentes fatores e variáveis que podem interferir para o infarto agudo do miocárdio, para a hipertensão arterial e para o diabetes por exemplo. E eu nem estou falando das mortes diretas pelos tiroteios".

O objetivo da inspeção é fazer um diagnóstico das unidades da PM. A análise servirá para futuras ações da intervenção federal - Divulgação

Clareza

O diretor também avaliou que a intervenção, até o momento, não trouxe novidade na forma de combate ao crime. "Não há ainda uma ideia clara. Nem o plano da intervenção foi publicizado. E ele precisaria ser liberado para sabermos exatamente qual a conduta dessa intervenção. Por enquanto, o que temos assistido após um mês é o mesmo modelo de ação que nós vivemos há anos".

No debate não havia representantes do Gabinete da Intervenção Federal, nem da Secretaria estadual de Segurança Pública.

A cobrança pela divulgação do plano da intervenção vem sendo realizada por diversos órgãos como o Ministério Público, a Defensoria Pública e também por parlamentares.

Na última segunda, deputados federais que se reuniram com o interventor, o general Walter Braga Netto, saíram do encontro afirmando terem obtido a promessa de que a divulgação ocorreria nesta semana.

Moradores chegaram a relatar que teria havido tiroteio pela manhã - Estefan Radovicz / Agência O Dia

Legalização

Para André Barros, vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da seccional fluminense da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ), é preciso mudar a abordagem da questão da segurança pública do Rio de Janeiro. Ele defendeu a legalização da maconha como forma de enfraquecer o crime organizado e reduzir a violência.

Segundo o advogado, há venda de drogas em todos os lugares da cidade, mas as ações de repressão estão concentradas nas favelas.

"Se justificam essas ações porque ali está o chamado tráfico armado. Em Copacabana, por exemplo, há venda de drogas em diversos pontos, mas não há armas. O crime de tráfico em si não é grave. O que é mais grave: matar um pessoa, estuprar ou vender um produto considerado ilegal? Como conduta, o crime mais grave conforme o Código Penal é matar alguém. Mas na prática esse crime pouco tem importado ao Estado. Só 11% dos homicídios no Rio de Janeiro têm sido resolvidos", disse.

André Barros também avalia que o combate ao tráfico de armas deveria mobilizar maior atenção do Estado.

Galeria de Fotos

Incursão das Forças Armadas na Vila Kenedy Estefan Radovicz / Agência O Dia
Inspeção do Gabinete da Intervenção Federal do Rio no Bope Divulgação
veículo de Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) Estefan Radovicz / Agência O Dia

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