Rio - Antes tivesse só uma pedra no meio do caminho em São João de Meriti, como no poema de Carlos Drummond de Andrade. Tem muito mais: montes de lixo, fileiras de carros estacionados irregularmente e apropriação do espaço da calçada por lojistas e ambulantes. Sinais gritantes da desordem urbana denunciam a omissão do poder público no quarto município mais populoso da Baixada Fluminense, com 460 mil habitantes, tema do terceiro capítulo da série 'Baixada pede socorro'.
Nem precisa sair do Centro para verificar que a fiscalização é precária. Eram 10h de ontem quando as estudantes Rafaela dos Santos e Bárbara Domingas, ambas de 18 anos, andavam do curso para o shopping pelo meio da Rua São João Batista. As calçadas, estreitíssimas, estavam ocupadas por veículos, lixo e entulho. Um lojista bloqueava o passeio público para descarregar mercadoria de um lado da via, impedindo a passagem para um ponto de ônibus. No local já não tem semáforo e faixa de pedestre para atravessar com segurança. Do outro, ele expunha produtos em frente a sua loja, hábito de comerciantes por toda a cidade.
"As calçadas já são muito ruins, quebradas, com pedras, e não há fiscalização. Não sei se é pelo fato de ser Baixada, não estão nem aí. Agora, chega lá na Zona Sul. Quase não se vê isso. É sempre tudo organizadinho, bonitinho", comparou Bárbara.
Não importa o bairro, os problemas se repetem. No Éden, o lixo saía da calçada e invadia a Avenida Tenente-Aviador Nilton Campos Soares, próximo à Avenida Tôrres Homem, ao lado da linha férrea utilizada para transporte de carga. O despejo irregular varia de resíduos domésticos a pneus e sofá e exala mau cheiro. E quando chove, as ruas do entorno enchem de água e esgoto.
"Isso aqui enche e a água entra na minha casa. Já cansei de tomar banho de esgoto quando passa carro. Tem uma valeta de dreno na linha férrea que não era para estar sendo usada como esgoto. Ali onde moro, por ser mais baixo, enche tudo. Dá quase meio metro de água e iguala com a linha férrea", contou o autônomo João Carlos, 62, morador da Rua Imperatriz Leopoldina, no Éden.
Cenário semelhante foi flagrado nos bairros Tomazinho, onde crianças e cavalos andam no lixo, e Jardim José Bonifácio, onde moradores teriam construído quebra-molas para dificultar a passagem de veículos que vão à Rua Geraldo Crispim depositar lixo na beira do rio, assassinado pela poluição.