Baixada Fluminense vive abandono

O Mapa da Desigualdade, da Casa Fluminense, aponta realidades díspares em vários setores quando se compara a Baixada com a capital e o restante da região metropolitana

Por GUSTAVO RIBEIRO

Lixo amontoado nas ruas é cenário comum para os moradores do bairro Parque Tietê, em São João de Meriti
Lixo amontoado nas ruas é cenário comum para os moradores do bairro Parque Tietê, em São João de Meriti -

Rio - 'Aqui é muito carente. Em época de eleição, sempre fazem promessas, mas elas não saem do papel". O comentário do aposentado Paulo Sérgio Rosário, 65 anos, ilustra a sensação de abandono e descrença dividida por 3,7 milhões de habitantes da Baixada Fluminense. O desabafo foi feito enquanto pedestres se arriscavam, na Estrada São João-Caxias, desviando do lixo amontoado na calçada, no Parque Tietê, São João de Meriti. Segundo moradores, além da coleta de resíduos precária, há anos o esgoto alaga a via quando chove. São sinais da omissão do poder público, que está longe de cumprir seu trabalho, como mostra a primeira reportagem da série do DIA sobre a Baixada.

O Mapa da Desigualdade, da Casa Fluminense, aponta realidades díspares em vários setores quando se compara a Baixada com a capital e o restante da região metropolitana. Os municípios com maior percentual de pessoas que precisam sair de suas cidades para trabalhar ficam na Baixada, resultado do baixo desenvolvimento regional: Mesquita (60%), Japeri (55%), Belford Roxo (52%), Nilópolis (52%) e Queimados (50%). A renda média mensal de cada cidadão em Japeri, de R$ 607, contrasta com os R$ 2.155 da capital e R$ 2.888 de Niterói. Quando o tema é segurança, Queimados liderou os homicídios em 2016, com 134,9 casos a cada 100 mil habitantes. No Rio e em Niterói, as taxas também não são favoráveis, mas bem inferiores: 29,3 e 37,2 homicídios por 100 mil habitantes.

"Os indicadores gritantes na Baixada são fruto de uma histórica concepção de desenvolvimento que supervaloriza a região central e áreas turísticas, onde vivem os tomadores de decisão", ressaltou o economista Vitor Mihessen, coordenador da Casa Fluminense. Ele defende a criação de uma agência metropolitana para que os projetos de desenvolvimento sejam definidos em conjunto pelo estado e as 21 prefeituras do Grande Rio.

Embora a Baixada tenha 22,57% da população estadual, vias que nunca receberam asfalto e sem saneamento são cenários comuns. Um exemplo é o Parque Esperança, em Belford Roxo (3º município mais populoso na região), onde pedestres pisam em esgoto e pulam buracos nas ruas.

Salários estão em atraso

Em Duque de Caxias, São João de Meriti e Itaguaí servidores ainda sofrem atrasos salariais herdados das gestões anteriores. A professora aposentada Sebastiana do Lago, 70, tem sobrevivido com ajuda de parentes do Maranhão. Ela prestou serviços a Caxias por 25 anos e agora cogita retornar ao seu estado. "Depois de ter trabalhado muito, hoje com uma idade avançada a pessoa cai em depressão. Você não pode nem sair para se distrair".

A Prefeitura de Caxias informou que está pagando a 19ª folha no 16º mês de gestão e que os profissionais da Educação que ganham até R$ 3.774,37 líquidos receberam março. O Executivo ressaltou empenho para pagar o 13º de 2017. Em Itaguaí, 10% dos ativos, que ganham mais de R$ 5 mil, não receberam dezembro de 2016. O Município espera regularizar em breve. Em São João, falta pagar metade da folha de janeiro, fevereiro e março. A previsão é quitar janeiro esta semana e iniciar fevereiro em breve.

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Lixo amontoado nas ruas é cenário comum para os moradores do bairro Parque Tietê, em São João de Meriti FOTOS DE Fernanda Dias
Em Parque Esperança, em Belford Roxo, pedestre pisam no esgoto Fernanda Dias
Sebastiana, professora aposentada de Caxias, está sem pagamento Fernanda Dias
Lixo amontoado nas ruas é cenário comum para os moradores do bairro Parque Tietê, em São João de Meriti FOTOS DE Fernanda Dias
grafico baixada ARTE O DIA

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