Mil�cia sem limites

Pol�cia deflagra opera��o contra a Liga da Justi�a e prende 18 ap�s amea�as a delegados. Grupo fatura R$ 300 milh�es por ano com todos os tipos de crimes

Por WILSON AQUINO, MARIA INEZ MAGALH�ES, RAFAEL NASCIMENTO e *GABRIEL THOMAZ

Barbosa afirma que mil�cia expandiu atua��o para todos os crimes -

Rio - A maior milícia do Rio, a Liga da Justiça transformou-se em organização ilimitada. De acordo com o chefe da Polícia Civil, delegado Rivaldo Barbosa, nos últimos cinco anos, o grupo dobrou seu território de atuação e ampliou o leque de delitos. "Pratica todos os crimes previstos no Código Penal", disse Barbosa.

Às atividades conhecidas, como segurança clandestina, extorsão, transporte alternativo, venda de gás e gatonet, somaram-se o comércio informal, o loteamento irregular e a extração ilegal de areia e minerais. O DIA descobriu que milicianos passaram a cobrar até por entrega de correspondência.

"A milícia propaga o terror com o único objetivo de angariar lucro", afirmou o delegado Fábio Barucke. E lucra mesmo. Pelas contas da polícia, a Liga da Justiça já fatura cerca de R$ 25 milhões por mês (R$ 300 milhões/ano), cometendo as mais variadas atividades ilegais nas ruas da Zona Oeste do Rio. Nem os artistas de rua, aqueles que ficam fazendo malabarismo nos sinais fechados em troca de umas moedas, escapam da ambição desmedida dos milicianos. Boa parte desse dinheiro vai para a corrupção de agentes públicos.

Abin entra no caso

Ontem, a Polícia Civil deflagrou uma gigantesca operação para atacar "as fontes financeiras" da quadrilha. Na ação, 18 pessoas foram presas, e apreendidas 33 vans que faziam transporte alternativo, além de cerca de três tonelada de mercadorias contrabandeadas.

Apesar de a Polícia negar, O DIA obteve informações de que a operação realizada ontem foi antecipada após delegados envolvidos na ação no sítio Três Irmãos, em Santa Cruz, onde 159 pessoas foram presas acusadas de envolvimento com paramilitares, terem sido ameaçados de morte. A primeira ameaça chegou por um bilhete entregue na 35ª DP (Campo Grande), cuja titularidade, do delegado William de Medeiros Pena Junior, foi mudada no mesmo dia por medida de segurança. Ele recebeu uma ligação no seu telefone pessoal de uma pessoa dizendo que ia matá-lo.

Desde então, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) passou a monitorar grupo de milicianos e descobriu outras ameaças a outros delegados que investigam milícias da Zona Oeste. Entre os que receberam recados intimidadores estão os delegados Fábio Salvadoretti e Daniel Rosa, ambos da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF). Cerca de 180 agentes participaram da operação, que mobilizou 100 viaturas, dois helicópteros e dois caveirões. "A milícia é a organização criminosa que mais cresce no estado. Além do poder bélico, tem um poder econômico enorme. Outras operações virão dentro do nosso planejamento de combate ao crime organizado", garantiu o chefe de Polícia Civil.

Mil�cia cresce em Niter�i, diz vereador

O vereador Sandro Ara�jo (PPS), de Niter�i, afirmou que o n�mero de comunidades dominadas pela mil�cia na cidade vizinha ao Rio cresceu exponencialmente. Segundo o parlamentar, grupos paramilitares atualmente dominam 164 comunidades no munic�pio.

"Conhe�o muitos comerciantes que receberam a oferta do servi�o de seguran�a por grupos que t�m caracter�sticas de organiza��es paramilitares. Curiosamente isso foi depois de uma onda de assaltos e terror na regi�o. Inclusive j� prometeram fazer a seguran�a de um local no per�odo de 12 horas por R$ 18 mil", afirmou.

As constantes den�ncias �s mil�cias em Niter�i fizeram com que as amea�as passassem a fazer parte do cotidiano do vereador niteroiense. "Recebo uma ou duas (amea�as) por dia, seja pelo celular ou pelo telefone do gabinete. Mesmo assim, sigo tranquilo", disse Sandro Ara�jo, que tamb�m tem carreira na Pol�cia Federal.

Trinta vans apreendidas

Principal fonte de renda dos milicianos, o transporte alternativo irregular foi um dos principais alvos da opera��o de ontem. O n�mero de ve�culos apreendidos foi t�o grande, mais de 30 vans, que faltou reboque para levar os carros e os pr�prios policiais tiveram que conduzir a frota para o P�tio Legal do Detran, em Campo Grande.

Segundo o delegado F�bio Barucke, diretor de Pol�cia da Capital, uma investiga��o apontou que o transporte alternativo responde por 70% do faturamento dos criminosos. "A extors�o cometida por esses milicianos nas vans � a sua maior renda. Investigamos alguns pontos controlados pela mil�cia. Existe van irregular que paga contribui��o regular � mil�cia. Assim, como as vans legalizadas tamb�m s�o obrigadas a pagar. E tem vans que s�o de propriedade da mil�cia e eles n�o precisam extorquir", explicou Barucke, garantindo que a pol�cia far� novas a��es para quebrar outros bra�os financeiros, como a distribui��o de g�s. "Estamos verificando tamb�m centrais de distribui��o de TV e Internet", afirmou o delegado Barucke.

Para Barucke, a opera��o de ontem corroborou as investiga��es. Ele citou a extors�o aos artistas de rua para exemplificar que nada escapa � sanha dos milicianos. "A pessoa que fica no sinal, em Campo Grande, fazendo arte, tamb�m paga por esses pontos � mil�cia", questionou o delegado.

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Barbosa afirma que mil�cia expandiu atua��o para todos os crimes Daniel Castelo Branco
Opera��o apreendeu em Santa Cruz vans e kombis de transporte alternativo, que, segundo a pol�cia, s�o a principal fonte de renda da mil�cia da Zona Oeste Severino Silva

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