Ana Cec�lia Romeu: a cor tem sexo na 3� realidade

A nossa vida e tudo o que cabe nela e se toca a vida dos outros, esse sim, � o grande legado a ser repaginado quando necess�rio. Somos mulheres e homens � procura do protagonismo, aquele de verdade

Por Ana Cec�lia Romeu Publicit�ria e escritora

Ana Cec�lia Romeu, publicit�ria e escritora, colunista do DIA
Ana Cec�lia Romeu, publicit�ria e escritora, colunista do DIA - Divulga��o

Rio - A realidade é um exercício de invisibilidades. Há um tanto que se funde integrando-se à paisagem a se tornar legítimo. As cores têm sexo: rosa às meninas; azul aos meninos. Mas "la vie n'est pas rose", a vida não é cor-de-rosa; e, sim, tão magnífica que abraça todas as cores, inclusos o preto e o branco, e o sangue deixa de ser vermelho para adquirir um tom chumbo, quando se atribui o choro a uma fraqueza, e meninos são criados para serem fortes.

O pai tem a tutela da filha e a passará ao futuro genro, e essa "herança" é alimentada como normal e engole os sonhos futuros das meninas. E também quando a filha é presenteada com o boneco-bebê, ou a cozinha com os utensílios, a vassourinha, a maquininha de lavar roupas... A menina é uma futura mulher que deverá cumprir-se como mãe e esposa. Quando vivemos a monarquia como uma terceira realidade que se mescla ao virtual e ao real e passamos a almejar o universo dos príncipes e princesas, porque não basta ser criança. Quando as divas são escolhidas pela sensualidade forçada, a ignorar que há coisas que são espontâneas e não se vendem.

Meu brinquedo favorito na infância, e que guardo ainda hoje, era a coleção de carrinhos que nosso pai comprou no Uruguai. Meu mundo cabia todo ele naqueles quatro centímetros de cada automóvel; e no bagageiro flexível de 1 cm do meu cupê azul, todas minhas malas e viagens. Quando outro dia ouvi que dirijo feito um homem, a pessoa me disse como um 'elogio', respondi: "Dirijo como uma mulher que nunca levou multa". E toda uma nostalgia apareceu... Da menina que preferia os carrinhos e era incentivada por isso. Por que o ir e vir é um direito, uma necessidade e projeto de independência para todos nós, homens e mulheres.

E apenas quando ressurgem figuras midiáticas que escancaram o que parecia escondido, porque na verdade se fundia à paisagem, isso é causa de indignação e inconformidade.

Talvez não exista mesmo a Bela da Tarde, seja apenas coisa do vendedor de ilusões. A nossa vida e tudo o que cabe nela e se toca a vida dos outros, esse sim, é o grande legado a ser repaginado quando necessário. Somos mulheres e homens à procura do protagonismo, aquele de verdade!

Ana Cecília Romeu é publicitária e escritora

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