Em quatro anos de Lava Jato, nenhum pol�tico do PSDB foi preso

Levantamento feito pelo DIA mostra que, at� hoje, nenhum pol�tico do PSDB foi preso ou condenado, apesar de a legenda figurar em quarto lugar em n�mero de investigados

Por O Dia

Moro conversa com o senador A�cio Neves em premia��o em 2016
Moro conversa com o senador A�cio Neves em premia��o em 2016 -

Brasília - Às vésperas de completar quatro anos a primeira fase foi lançada em 17 de março de 2014 , a Operação Lava Jato continua enfrentando críticas por possível seletividade. Levantamento feito pelo DIA mostra que, até hoje, nenhum político do PSDB foi preso ou condenado, apesar de a legenda figurar em quarto lugar em número de investigados. Por coincidência, um inquérito a que respondia o senador tucano José Serra, foi arquivado por prescrição pela ministra do Supremo Tribunal Federal Rosa Weber na quinta-feira. A investigação tratava de denúncia de caixa dois.

Já o senador Aécio Neves, presidente do PSDB até dezembro, pôde voltar ao mandato por votação dos colegas da Casa, após ser afastado pelo STF. O tucano foi denunciado pela Procuradoria Regional da República por supostamente receber R$ 2 milhões da JBS como propina e atuar com o presidente Temer para impedir o andamento da Lava Jato.

Para o cientista político Marcio Malta, da UFF, não há imparcialidade na operação. "O tratamento não é o mesmo, haja vista a empatia que o juiz federal Sergio Moro, símbolo da Lava Jato, mostra pelo PSDB. Além do ato público emblemático com Aécio [foto ao lado], nas suas ações o magistrado demonstra o mesmo tipo de afinidade e aproximação pela sigla", acusa.

O PT, que comandou o governo de 2003 a 2016, lidera em número de políticos condenados e investigados e tem seu principal representante, o ex-presidente Lula, à beira da prisão. Porém, em comparação ao MDB, partido de Temer, apresenta o mesmo número de investigados, que só possui 16,6% de condenados.

Professor da FGV Direito Rio, Michael Mohallem destacou que não se pode definir o PT como o 'mais corrupto'. "É apenas uma evidência que foi o mais investigado. A corrupção não é ligada a nenhum partido, ela é sistêmica. Se houver a mesma profundidade na investigação dos demais acredito que o resultado vai ser o mesmo ou maior", crê. 

'H� uma prote��o', diz especialista

Ao rebater as cr�ticas de falta de isen��o na Lava Jato, o delegado da Pol�cia Federal Igor Rom�rio de Paula afirmou que "� natural que o PT seja o partido mais atingido pelas investiga��es, j� que ficou mais de dez anos no poder."

O especialista Marcio Malta rebate o argumento. "A Justi�a n�o tem o mesmo vigor e clamor midi�tico em rela��o aos partidos, assim como a rapidez em tratar os casos. A PF algemar alguns pol�ticos e outros n�o, por exemplo", critica.

J� Mohallem ressalta o caso de A�cio. "H� uma prote��o do Estado aos pol�ticos, isso dificultou a pris�o do senador, que tem foro privilegiado. Mas nesse processo a investiga��o chegou ao STF, e o Senado protegeu o colega da Casa."

Questionado sobre a motiva��o desse poss�vel favorecimento do PSDB, Malta � incisivo. "A Lava Jato tem claramente uma fundamenta��o pol�tica. No decorrer das investiga��es, outros partidos acabaram sendo arrolados. Por�m, h� um �dio por parte dos setores da elite que age como um bloco para impedir qualquer transforma��o social no Brasil, como fez o PT."

O cientista da FGV tem opini�o mais branda. "� imposs�vel o Minist�rio P�blico e a justi�a darem conta de todos as investiga��es simultaneamente. Ent�o escolhas t�m que ser feitas, mas � dif�cil entender qual � o crit�rio. J� que o partido da oposi��o teve seus casos acelerados, seria o momento de outros processos andarem com mais seletividade", sugere Mohallem.

O caso de Alckmin

Pr�-candidato oficial do PSDB para concorrer � Presid�ncia e governador de S�o Paulo, Geraldo Alckmin tem no hist�rico uma nebulosa investiga��o sobre um cartel em licita��es de trens e metr� no estado, al�m de den�ncia de suposto recebimento de caixa-dois nas elei��es de 2010 e 2016 pela Odebrecht.

No caso do cartel, a empresa Siemens j� foi inclusive condenada na Alemanha, onde dirigentes assumiram a liga��o indevida com o governo de S�o Paulo.

"H� um rastro de seletividade no avan�o dos processos judiciais. Nesse fato, uma rela��o prom�scua do MP Estadual com o governo, uma atua��o absolutamente diferente do MPF. Quanto mais o tempo passa, as provas ficam mais fr�geis. � curioso a empresa ser condenada em outro pa�s e no Brasil a Justi�a nem investigar", avalia o cientista pol�tico Mohallem.

Segundo o jornal 'Folha de S.Paulo', para n�o manchar a imagem para as elei��es, Alckmin deve solicitar ressarcimento do dano causado pela Siemens, em linha com a narrativa de que o Estado foi v�tima.

Rapidez no caso do ex-presidente

Lula perdeu no STJ - AFP/NELSON ALMEIDA

Primeiro presidente do país condenado por crime comum, Lula pode em poucas semanas ser preso por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá. Com habeas corpus rejeitado pelo Superior Tribunal de Justiça, o petista aguarda apenas o julgamento do recurso no TRF-4, que o sentenciou a 12 anos e um mês de prisão.

A expectativa da defesa do ex-presidente, que questiona a 'celeridade extraordinária' da ação penal, é que o STF julgue o mérito da prisão após segunda instância.

"O processo andou de fato com muita rapidez. Por um lado é importante para o país saber que um candidato importante não tem o risco de ser preso, dá transparência. Mas há outros pré-candidatos investigados que não têm chance de o processo evoluir até o fim do ano", explica Mohallem.

Malta acredita em uma 'judicialização da política'. "A Justiça tem interferido e muito nas decisões do Executivo e do Legislativo. Nesse caso, uma tentativa de não permitir que Lula, líder nas intenções de voto, concorra. É questão de soberania os eleitores não poderem exercer sua escolha." 

*Reportagem da estagiária Luana Dandara sob supervisão de Eduardo Pierre

 

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Moro conversa com o senador A�cio Neves em premia��o em 2016 Alex Silva/Estad�o
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