De telespectadores a diretores. O que poderia ser apenas um sonho improvável no imaginário de crianças, jovens e adultos das comunidades do Rio começa a tornar-se possível através do projeto Cinemaneiro. A primeira turma, formada por 30 alunos, já está em andamento na Escola Municipal Brigadeiro Faria Lima, em Água Santa, Zona Norte do Rio.
Uma outra oficina está com inscrições abertas na Cidade de Deus e as aulas são previstas para começar este mês. O terceiro capítulo vai acontecer no Complexo da Maré, ainda sem data definida, também para 30 alunos. O professor Ícaro Fernandes, de 34 anos, usa a própria história como exemplo para incentivar os jovens (mesmo os que têm mais de 70):
“Comecei a me interessar por cinema em 2004 e fiz um curso livre, depois fui aluno do projeto Cinemaneiro. Em 2006, passei a dar aula e faço parte da iniciativa desde então. A turma sempre fica mais animada na parte prática, a receptividade é maior. Quando tenho oportunidade e sinto que já estou mais próximo da galera, conto minha história e mostro que, a partir dessa chance, eles podem construir uma profissão”.
A iniciativa ensina aos estudantes tudo sobre como produzir um filme através de aulas práticas, teóricas e linguagem cinematográfica, além de passar pelas partes de som, edição e manuseio com as câmeras. E o melhor: como o projeto tem financiamento do Instituto Invepar e da Lamsa, tudo é de graça.
A natureza como protagonista
Segundo o cineasta e um dos idealizadores do Cinemaneiro, Frederico Cardoso, de 46, o roteiro da iniciativa mudou ao longo de seus 18 anos, seguindo a evolução tecnológica.
“Quando começamos, podemos dizer que praticamente não existia internet, o acesso à tecnologia era bem mais difícil. Hoje em dia não, qualquer um consegue trabalhar com audiovisual a partir de um celular, por exemplo. Há quatro anos começamos a nos reinventar e passamos de um projeto que só fazia documentário e filme para um projeto que soma isso à responsabilidade socioambiental”, orgulha-se.
Com o tema “Um filme para ser feliz: qual pequena atitude posso tomar para o meu benefício e o benefício do meu lugar?”, a ação deste ano faz os alunos pensarem qual é seu papel no espaço em que vivem e de que forma podem contribuir para o crescimento pessoal e de sua localidade.
“Na turma de Água Santa, os alunos pensaram em desenvolver uma composteira na escola para a conscientização de desperdício de alimentos, tanto da parte de quem cozinha quanto da parte de quem coloca comida no prato e acaba jogando fora”, conta Frederico, revelando o ponto de partida do novo documentário.
O Cinemaneiro já atendeu cerca de 2 mil jovens. Para conseguir uma vaga, basta ter a idade mínima de 13 anos, se inscrever pelo WhatsApp (98881-2832) ou pelo Facebook. O curso tem duração de três meses e as aulas acontecem duas vezes por semana, das 13h30 às 16h30.
* Estagiária sob a supervisão de Marco Antonio RochaGaleria de Fotos