EUA inauguram embaixada em Jerusal�m sob banho de sangue

Confrontos na Faixa de Gaza deixaram pelo menos 52 palestinos mortos e 1.700 feridos nesta segunda-feira

Por AFP

O secretário do Tesouro dos EUA, Steve Mnuchin, aplaude, enquanto a filha do presidente dos EUA, Ivanka Trump, mostra a placa de inauguração da embaixada dos EUA em Jerusalém
O secretário do Tesouro dos EUA, Steve Mnuchin, aplaude, enquanto a filha do presidente dos EUA, Ivanka Trump, mostra a placa de inauguração da embaixada dos EUA em Jerusalém -

Jerusalém - A inauguração da embaixada dos Estados Unidos em Jerusalém, concretizando uma das promessas mais polêmicas do presidente Donald Trump, traduziu-se em um banho de sangue na Faixa de Gaza, nesta segunda-feira, onde 52 palestinos foram mortos por tiros israelenses.

O embaixador palestino na ONU, Riyad Mansour, informou que, entre as vítimas mortais, oito têm menos de 16 anos.

Por causa da violência, este dia de festa para israelenses e americanos é o mais letal do conflito de Israel com os palestinos desde a guerra de 2014 na Faixa de Gaza.

Enquanto as autoridades americanas e israelenses celebravam um momento "histórico" e a força de sua aliança em uma enorme tenda branca no terreno da nova embaixada, dezenas de milhares de palestinos protestavam a algumas dezenas de quilômetros de distância, na Faixa de Gaza.

Os mais determinados enfrentaram, colocando suas vidas em risco, os tiros dos soldados israelenses, lançando pedras e tentando forçar a barreira de segurança fortemente vigiada.

Israel havia avisado que usaria "todos os meios" para proteger seus soldados e a cerca, evitando assim o cenário de pesadelo de uma incursão em Israel de palestinos que provavelmente atacariam as populações civis vizinhas.

Segundo o último balanço provisório do Ministério da Saúde de Gaza, 52 palestinos foram mortos, e 1.700 ficaram feridos.

O secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, afirmou que está preocupado com o número de pessoas mortas na Faixa de Gaza durante os protestos. Guterres se manifestou nesta segunda-feira em Viena, enquanto os confrontos ocorriam na região e assessores do presidente norte-americano, Donald Trump, inauguravam representação diplomática do país na cidade sagrada.

"Estou particularmente preocupado com as notícias vindas de Gaza com o grande número de pessoas mortas", disse Guterres.

'Crimes de guerra' 

O governo palestino estabelecido na Cisjordânia ocupada acusou Israel de cometer um "horrível massacre" em Gaza.

O presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, denunciou um massacre e rejeitou qualquer mediação de paz americana.

O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, disse estar "particularmente preocupado", enquanto a União Europeia apelou a todas as partes que demonstrem "a máxima contenção".

As ONGs Anistia Internacional e Human Rights Watch (HRW) denunciaram um uso injustificado de munição real, com a primeira organização denunciando uma "violação abjeta" dos direitos humanos e "crimes de guerra".

Dentro da embaixada americana, nada teria permitido discernir o que estava acontecendo ao mesmo tempo em Gaza. Apenas o conselheiro e genro de Trump, Jared Kushner, presente com sua esposa, Ivanka - a filha do presidente -, entre centenas de convidados escolhidos a dedo, pareceu fazer uma referência indireta aos eventos.

"Aqueles que provocam a violência são parte do problema, não a solução", disse ele.

No momento em que o balanço aumentava de hora em hora, Trump saudava a transferência para Jerusalém da embaixada como "um grande dia para Israel".

"Parabéns, esperávamos por isso há muito tempo", declarou o republicano em uma mensagem de vídeo aos participantes.

Como o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, depois dele, Trump justificou sua decisão como o reconhecimento de uma realidade histórica. Ele afirmou que os Estados Unidos continuam "totalmente comprometidos com a busca de uma paz duradoura" entre israelenses e palestinos.

A inauguração é, no entanto, amplamente vista como um ato de desafio à comunidade internacional em um momento de grande preocupação com a estabilidade regional.

Além de se oporem à transferência da embaixada, os palestinos também protestam contra o bloqueio de Gaza e a ocupação de seus territórios.

O Exército israelense negou a natureza pacífica da mobilização, chamando-a de "operação terrorista" liderada pelo Hamas, o movimento islâmico que governa o enclave palestino e com o qual travou três guerras em dez anos.

Aviões de guerra israelenses bombardearam várias posições do Hamas durante o dia.

O Exército havia declarado a periferia de Gaza de zona militar fechada. E quase dobrou suas forças de combate em torno do enclave e na Cisjordânia, um território palestino ocupado por Israel, onde também estavam programados protestos.

Os arredores da embaixada americana, colocada sob a vigilância de centenas de policiais, também foram isolados.

Materializando um compromisso de campanha de Trump, essa transferência da embaixada de Tel Aviv para Jerusalém constitui uma ruptura com décadas de diplomacia americana e de consenso internacional. O status de Jerusalém é uma das questões mais difíceis do insolúvel conflito entre israelenses e palestinos.

A decisão americana é comemorada pelos israelenses, que veem isso como um reconhecimento de uma realidade de 3.000 anos para o povo judeu. Coincide com o 70º aniversário da criação do Estado de Israel.

Mas a iniciativa unilateral americana irrita os palestinos, para quem representa o auge do preconceito escandalosamente pró-Israel de Trump. Eles interpretam isso como a negação de suas reivindicações sobre Jerusalém.

Em Gaza, Bilal Fasayfes, de 31 anos, pegou com sua esposa e dois filhos um dos ônibus fretados para Khan Yunis (sul) para transportar os manifestantes até a fronteira.

"Não nos importamos se metade das pessoas morrerem, continuaremos a ir para que a outra metade viva com dignidade", afirmou ele.

Pelo Twitter, o presidente Michel Temer lamentou o derramamento de sangue: "Lamento profundamente os terríveis episódios de violência na fronteira entre Israel e a Palestina. Nossa solidariedade com os feridos e as famílias dos mortos. O Brasil faz um apelo à moderação, um chamado à paz", escreveu o presidente.

Galeria de Fotos

O secretário do Tesouro dos EUA, Steve Mnuchin, aplaude, enquanto a filha do presidente dos EUA, Ivanka Trump, mostra a placa de inauguração da embaixada dos EUA em Jerusalém AFP photo/ Menahem Kahana
O embaixador dos EUA em Israel, David Friedman, acompanha o discurso do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, durante a abertura da embaixada dos EUA em Jerusalém AFP PHOTO / MENAHEM KAHANA
Palestinos fogem de gás lacrimogêneo disparado por forças israelenses perto da fronteira entre a faixa de Gaza e Israel AFP photo/ Mahmud Hams
Os colonos nacionalistas israelitas acenam sua bandeira nacional enquanto comemoram o dia de Jerusalém na porta de Damasco da cidade velha no Jerusalém o 13 de maio de 2018 AFP PHOTO / Menahem Kahana
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Os palestinos carregam um manifestante ferido durante confrontos com forças israelenses ao longo da fronteira com a Faixa de Gaza AFP photo/ Said Khatib
Os palestinos carregam um manifestante ferido durante confrontos com forças israelenses ao longo da fronteira com a Faixa de Gaza AFP photo / Said Khatib
Manifestantes palestinos fogem do gás lacrimogêneo durante confrontos com forças israelenses perto da fronteira entre a faixa de Gaza e Israel AFP/ Mahmud Hams
Um palestino usa um estilingue durante confrontos com forças israelenses ao longo da fronteira com a Faixa de Gaza AFP photo/ Said Khatib
Serviços de emergência e palestinos carregam um manifestante ferido durante confrontos com forças de segurança israelenses perto da fronteira entre Israel e a Faixa de Gaza AFP photo/ Mohammed Abed
Os palestinos carregam um manifestante ferido durante confrontos com forças israelenses ao longo da fronteira com a Faixa de Gaza AFP PHOTO / Said Khatib
Palestinos rezam durante confrontos com forças israelenses perto da fronteira entre a Faixa de Gaza e Israel, durante uma manifestação contra a embaixada dos EUA em Jerusalém AFP photo Mahmud Hams
A filha do presidente dos EUA, Ivanka Trump, e seu marido, o assessor sênior da Casa Branca, Jared Kushner, chegam à polêmica inauguração da embaixada dos EUA em Jerusalém AFP PHOTO / Menahem Kahana
Palestinos protestam do lado de fora da nova embaixada dos EUA em Jerusalém AFP photo/ Ahmad Gharabli
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, sua esposa Sara Netanyahu, Jared Kushner, a filha do presidente dos Estados Unidos, Ivanka Trump, o secretário do Tesouro dos EUA, Steve Mnuchin, e o embaixador dos EUA em Washington, Israel David Friedman AFP PHOTO / Menahem Kahana
Os Estados Unidos transferiram sua embaixada em Israel para Jerusalém depois de meses de protestos globais AFP PHOTO / Menahem Kahana
Jovem palestino segura sua bandeira nacional durante confrontos com forças de segurança israelenses perto da fronteira entre a Faixa de Gaza e Israel AFP photo/ Mahmud Hams
O secretário do Tesouro dos EUA, Steve Mnuchin, e a filha do presidente dos EUA, Ivanka Trump, revelam uma placa de inauguração durante a abertura da embaixada dos EUA em Jerusalém AFP PHOTO / Menahem Kahana
O embaixador dos EUA em Israel, David Friedman, chega à frente da inauguração da embaixada dos EUA em Jerusalém AFP PHOTO / Menahem Kahana
O embaixador dos EUA em Israel, David Friedman e o conselheiro sênior da Casa Branca, Jared Kushner, cumprimentam-se no palco durante a abertura da embaixada dos EUA em Jerusalém AFP PHOTO / Menahem Kahana
O secretário do Tesouro dos EUA, Steve Mnuchin aplaude, enquantp a filha do presidente dos EUA, Ivanka Trump, mostra a placa de inauguração durante a abertura da embaixada dos EUA em Jerusalém AFP photo / Menahem Kahana

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