Participa��o de estrangeiros � investigada em explos�es

No ano passado, foram 60 ataques a caixas eletr�nicos no estado, aumento de 22%

Por FRANCISCO EDSON ALVES

Ataques a caixas eletr�nicos t�m sido cada vez mais constantes em todo o estado. Al�m de ag�ncias banc�rias, explos�es t�m ocorrido em supermercados, hot�is e at� hospitais
Ataques a caixas eletr�nicos t�m sido cada vez mais constantes em todo o estado. Al�m de ag�ncias banc�rias, explos�es t�m ocorrido em supermercados, hot�is e at� hospitais - Luiz Ackermann / Agencia O Dia

Rio - A cada dia com mais explosivos dos tipos C-4 e TNT , as quadrilhas que assaltam caixas eletrônicos utilizando dinamites transformaram o Estado do Rio em um verdadeiro campo minado. Só no ano passado, os criminosos mandaram um total de 60 equipamentos pelos ares, do Norte ao Sul Fluminense 11 a mais do que em 2016, alta de 22%. Em 2018, cinco ações já foram registradas, com prejuízos que ultrapassam a casa dos R$ 5 milhões. As investidas dos bandos são ousadas e não se limitam mais a instituições bancárias. Passaram a ser executadas também dentro de escolas, supermercados, hotéis, empresas e até hospitais, tornando real a possibilidade de tragédias.

A hipótese de as organizações criminosas, que se multiplicam na mesma velocidade com que contam dinheiro surrupiado com violência, estarem contratando especialistas em lidar com potentes bombas já é admitida por investigadores. Para alguns experts no assunto, ex-integrantes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), que atualmente se autodenominam Força Alternativa Revolucionária do Comum, por exemplo, estariam estreitando ainda mais seus vínculos com grupos criminosos brasileiros.

"Esse tipo de organização herdou conhecimentos terroristas com uso de explosivos do Exército Republicano Irlandês (IRA). A possibilidade de os assaltantes brasileiros estarem recebendo técnicos de explosivos que trabalhavam para as FARC e que não contarão com a anistia que está sendo concedida aos demais guerrilheiros (devido ao acordo de paz feito em novembro com o governo colombiano) é alta. Há dinamite e dinheiro sobrando nas mãos dos bandidos daqui", adverte Vinícius Cavalcante, diretor da Associação Brasileira de Profissionais de Segurança (Abseg), especializado em assuntos terroristas, com enfoque em artefatos explosivos.

Promotor do Grupo de Ação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público, Fabiano Oliveira também não descarta a possibilidade de criminosos estrangeiros serem arregimentados por brasileiros, que já contam com kamikazes (bandidos suicidas) em suas fileiras. "Isso é perfeitamente possível. Não é nenhuma teoria conspiratória. Só ainda não flagramos uma situação concreta. Mas é questão de tempo", admite Fabiano.

Ano passado, o Gaeco e as polícias Federal, Civil e Militar prenderam cerca de 30 homens que explodiam caixas eletrônicos no estado. Boa parte tinha sido treinada para manusear explosivos pelo Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo. Os 'cursos' foram dados a criminosos do Comando Vermelho (CV), quando a facção ainda mantinha vínculo com o grupo paulista.

"Hoje, é impossível saber quantas quadrilhas estão em atividade. Elas se expandiram vertiginosamente. Umas são ligadas a facções criminosas, outras não", detalha Fabiano, ressaltando que é preciso maior controle com estocagem e policiamento ostensivo para coibir os ataques, especialmente no interior. "Do contrário, vamos enxugando gelo".

As polícias Federal e Civil não comentaram as investigações em curso.

 

Vizinhos de bancos se mudam

As cenas protagonizadas pelos assaltantes com explosivos s�o como filmes de a��o. Os ataques s�o sempre 'cir�rgicos' e duram minutos. Demonstrando ousadia, e sempre bem armados, os bandos interestaduais passaram a invadir n�o s� postos de combust�veis, farm�cias e supermercados, mas tamb�m escolas e at� hospitais.

Em 2015, um caixa autom�tico dentro do Instituto de Cultura T�cnica, uma das maiores institui��es de ensino de Volta Redonda, foi arrombado a dinamites. No dia 3 de dezembro do ano passado, homens encapuzados detonaram um multicaixa num anexo do Hospital Samer, em Resende. A explos�o, al�m de assustar pacientes, destruiu as c�dulas que seriam roubadas.

Conforme o DIA publicou, fam�lias que moravam sobre institui��es banc�rias ou estabelecimentos com caixas eletr�nicos est�o se mudando. "N�o � poss�vel se viver em paz pr�ximo aos equipamentos. Fui morar na Tijuca (Zona Norte)", resume um dentista que pediu para n�o ser identificado e que se mudou com a mulher e dois filhos da Rua Visconde de Piraj�, em Ipanema, na Zona Sul, onde ag�ncia da CEF foi atacada em abril.

Em 2 anos, seis opera��es de fiscaliza��o do Ex�rcito

As mais de 7,5 toneladas de explosivos C-4 e TNT roubadas nos �ltimos seis anos a maior parte de pedreiras paulistas seriam suficientes para colocar abaixo dez Maracan�s ou at� 20 pr�dios de dez andares.

Segundo especialistas, a fiscaliza��o das atividades de fabrica��o, importa��o, exporta��o, com�rcio, armazenagem, transporte e tr�fego de explosivos e produtos correlatos, de responsabilidade da Se��o de Fiscaliza��o de Produtos Controlados (SFPC/1), subordinada � 1� Regi�o Militar do Comando Militar do Leste (CML), � escassa.

Em nota, o CML informou que, entre 2016 e 2017, foram realizadas seis opera��es em empresas que atuam com explosivos. "Tais a��es demonstram a constante fiscaliza��o. Cabe destacar que o transporte de explosivos somente � permitido com escolta armada e que a �ltima ocorr�ncia de furto ou roubo de explosivos no Estado do Rio ocorreu em 2015", diz a nota.

"Al�m disso, explosivos utilizados em il�citos podem ser rastreados", ressalta o CML, que, no entanto, n�o informa quantos explosivos usados nos ataques j� foram rastreados e as proced�ncias identificadas.

A venda de explosivos para pedreiras s� pode ser feita por empresas com Certificado de Registro (com�rcio) ou T�tulo de Registro (fabrica��o) junto ao Ex�rcito. Entre 2013 e 2015, o Ex�rcito e pol�cias apreenderam 13,7 toneladas de explosivos no Rio. Em 2016, durante a��o da PM, 220 bananas de dinamite foram recuperadas no Complexo da Pedreira, em Costa Barros.

Bandidos recrutam especialistas para evitar erros

Para o promotor Fabiano Oliveira, assim como traficantes contratam, a peso de ouro, qu�micos para o refino de coca�na, l�deres dos assaltos a caixas eletr�nicos passaram a recrutar m�o de obra com experi�ncia no manuseio de explosivos. O objetivo � evitar poss�veis erros de c�lculo nos ataques.

"Sem conhecimento do material que t�m nas m�os, vira e mexe acabam errando no c�lculo do uso de dinamite, frustrando as a��es", comenta Fabiano.

Ele lembrou que recentemente bandidos invadiram o Estaleiro Brasfels, em Angra dos Reis, no Sul Fluminense, mas "erraram a m�o" na quantidade de explosivos, que foi insuficiente para arrombar os caixas eletr�nicos. J� num hotel na mesma cidade, "exageraram na dose", e destru�ram o sagu�o inteiro para violar apenas um equipamento.

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Ataques a caixas eletr�nicos t�m sido cada vez mais constantes em todo o estado. Al�m de ag�ncias banc�rias, explos�es t�m ocorrido em supermercados, hot�is e at� hospitais Luiz Ackermann / Agencia O Dia
Homens do Sistema de Fiscaliza��o de Produtos Controlados (SFPC), do Ex�rcito, analisam �reas para a execu��o de a��es de fiscaliza��o divulga��o

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