Sem creche e sem emprego

Por Marcus Tavares Professor e jornalista

Marcus Tavares, colunista do DIA
Marcus Tavares, colunista do DIA - Divulga��o

Metr� Botafogo. Uma senhora entra com uma menina, com cerca de 2 anos, no colo. Senta no assento preferencial dos idosos. Em seguida, a crian�a come�a a chorar e chamar pela m�e. Tadinha. Percebemos que a senhora � a av�. Ela bem que tenta acalm�-la: "Vamos ligar para sua m�e? N�o fica assim, daqui a pouco ela volta". Outra passageira puxa assunto, e a av� explica que a m�e teve que ir trabalhar, que a menina est� de f�rias, que provavelmente n�o vai conseguir, de novo, vaga na creche p�blica e que n�o tem ningu�m para tomar conta. E, ao fim, dispara: "Emprego est� dif�cil. N�o se pode bobear. Vaga na creche, n�o tem. O certo era poder trabalhar e ficar com os filhos. Mas fazer o qu�? No Brasil, muitos n�o t�m direitos, menos ainda as crian�as. N�o est� errado?". A dist�ncia, concordei com a av�. Est� completamente errado.

A cena mostra o quanto, na pr�tica, n�o � nada f�cil a vida das m�es que tentam/precisam conciliar maternidade e trabalho. Primeiro, por conta da discrimina��o que as mulheres que se tornam m�es sofrem no mercado. E segundo porque o poder p�blico est� longe de atender � demanda da Educa��o Infantil. No in�cio deste m�s, a Prefeitura do Rio fez as contas e constatou que h� d�ficit de nada menos do que 32.839 vagas nas creches da rede.

Logo me lembrei do estudo realizado por Regina Madalozzo, economista e pesquisadora do Insper, divulgado ano passado. O levantamento, que ouviu 700 moradores da periferia de S�o Paulo, concluiu que o desemprego � estruturalmente mais alto entre as mulheres com filhos. A discrimina��o atinge todas as classes sociais, mas em especial as de baixa renda, pois n�o t�m como "terceirizar os cuidados e o trabalho dom�stico ao setor privado".

O preconceito � tamanho que se a maternidade desacelera a trajet�ria de crescimento da remunera��o das m�es, a paternidade, por sua vez, geralmente vem acompanhada de uma remunera��o salarial, constata��o que vem de outro estudo: 'O b�nus da paternidade e o fardo da maternidade', do Departamento de Sociologia da Universidade de Massachusetts.

Um retrato desumano, n�o? Para as m�es, para as crian�as e para as fam�lias de forma geral. Triste constatar que em pleno s�culo 21 pesquisas ainda indiquem que h� um tratamento diferenciado entre mulheres e homens/m�es e pais e que as crian�as continuam enfrentando dificuldades e sem direitos. Que as for�as de luz iluminem a s�bia av� e que acalmem a pobre crian�a.

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