Candombl� luta contra terrorismo

25 anos depois de mat�ria no DIA, candomblecistas continuam perseguidos. Agora com mais viol�ncia

Por O Dia

Rio - H� 25 anos o DIA publicou mat�ria mostrando, de forma in�dita, a inicia��o e a pr�tica de crian�as no candombl�. A reportagem transformou-se em fonte prim�ria de pesquisas sobre o assunto. O tema tamb�m virou livro (Educa��o nos Terreiros - e como a escola se relaciona com crian�as de candombl�"), escrito pela mesma autora da reportagem, a jornalista Stela Guedes.

Duas d�cadas e meia depois, os personagens falaram ao DIA, sobre suas vidas. E como enfrentam a crescente onda de intoler�ncia religiosa, com traficantes e fundamentalistas destruindo terreiros, torturando e perseguindo adeptos de religi�es de matrizes africanas.

Ricardo Nery%2C na foto de 1992 no atabaque%2C e a filha%2C Maria Clara%2C 4%3A "A viol�ncia se intensificou"Stela Guedes / Divulga��o

Tauana dos Santos, de 27 anos, � uma delas. Ela foi capa do livro de Stela, que descreve como crian�as se tornam ogans, equedes, se iniciam, incorporam Orix�s e participam da hierarquia nos cultos, compartilhando saberes e l�nguas africanas, entre elas, o yorub� e o banto.

"Na �poca (ela tinha dois anos em 1992), n�o entendia que j� sofria racismo. Com o tempo, vi o quanto �ramos discriminadas, que nossa dor sempre foi uma s�. Por isso a luta � uma s�. Hoje eu luto por um mundo sem racismo e intoler�ncia para meus filhos", diz Tauana, de Coelho da Rocha, musicista e m�e de Eduarda, 4, e Enrico, 1, ambos j� com responsabilidades no terreiro.

Tauna e os filhos%2C Enrico%2C 1%2C e Eduarda%2C 4. "Uma luta constante"Divulga��o

M�e Meninazinha de Oxum, sacerdotisa de um terreiro em S�o Jo�o de Meriti, tamb�m personagem da mat�ria, ressalta que as crian�as continuam sendo as principais v�timas da viol�ncia. "Porque est�o vendo o que amam ser atacado. Os terreiros precisam se unir", defende.

J� Paula Esteves, tem agora 27 anos, Ela conta que o preconceito que sofreu por ser do candombl�, � o mesmo enfrentado pelo filho, Cau�, de 12 anos. "Um dia a professora dele disse que eu precisava lev�-lo ao cinema, � praia, para tirar o que chamou de `ideias de macumba de sua mente. Como se uma crian�a de candombl� n�o conhecesse esses locais, e, pior: que o lazer � uma esp�cie de ant�doto contra o candombl�", lamenta Paula.

Paula Esteves e o filho%2C Cau�%2C de 12 anos. Professora recomentou cinema e praia contra "ideias de macumba"Divulga��o

Ricardo Nery, de 29 anos, foi fotografado em 1992 tocando atabaque, com 4 anos. Na �poca, a av�, M�e Palmira Navarro, contou ao DIA que o neto era chamado de "filho do diabo" na escola. Sua filha, Maria Clara, de 4 anos, j� frequenta o mesmo terreiro. "N�o quero que ela sofra o que sofri, mas acho que todos percebem que a discrimina��o aumentou", diz.

A antrop�loga, professora e m�e de santo, Rosiane Rodrigues, pesquisadora das religi�es afro-brasileiras e rela��es �tnico-raciais, diz que h� 25 anos o DIA j� revelava persegui��es aos candomblecistas. "Hoje, lamentavelmente, constata-se que a liberdade religiosa e luta por direitos civis, em pleno s�culo 21, est�o em risco. A viol�ncia s� cresceu, e agora tem novo tom, de terrorismo. � um alerta", adverte.

Meninazinha de Oxum%2C sacerdotisa em S�o Jo�o de Meriti%2C diz que os terreiros precisam se unir contra viol�nciasDivulga��o

Reportagem virou livro

A mat�ria de 1992 tamb�m mudou a vida de Stela Guedes. Professora do Programa de P�s Gradua��o em Educa��o da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (PROPED/UERJ) e coordenadora do K�ker� (pequeno em yorub�), um grupo de pesquisa da institui��o, com foco nas crian�as de candombl�, ela permaneceu 20 anos frequentando o Il� Omo Oy� Legi, em Mesquita, e outros terreiros da Baixada.

A jornalista Stela Guedes acabou se tornando candomblecista%2C a�s mais de duas d�cadas de pesquisas. "Me apaixonei pelo candombl�"Divulga��o

Em 2005, ela defendeu tese de doutorado na Pontif�cia Universidade Cat�lica (PUC) sobre crian�as de Candombl�, inaugurando um campo na antropologia e na educa��o. Em 2012, ela publicou o livro "Educa��o nos Terreiros - e como a escola se relaciona com crian�as de candombl�".

Na obra, ela relata como as crian�as s�o respeitadas nos terreiros. "Mas nas escolas s�o silenciadas e discriminadas", conclui. O livro foi finalista do Jabuti - o mais importante pr�mio liter�rio brasileiro. Em 2013, Stela se iniciou candomblecista.

"Eu era ateia, mas gostava dos terreiros, porque sempre os contemplei como espa�os de resist�ncia, que n�o foram hegemonizados pela colonialidade branca e crist�. Depois de duas d�cadas vendo e vivendo toda ess�ncia do candombl�, n�o pude mais continuar de fora", conta Stela.

 

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