Marielle: executada por profissionais

Ela se disp�s a ocupar um lugar que somente numa democracia poderia ser por ela almejado. Os donos das coisas e seus capangas n�o permitiram o sonho coletivo que ela sintetizava

Por Jo�o Batista Damasceno Doutor em Ci�ncia Pol�tica e juiz de Direito

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Incapaz de solucionar a execu��o da vereadora Marielle Franco, o Estado opta pelas opera��es midi�ticas. Entrar em favela, deixar corpo no ch�o ou promover pris�es em massa para apari��o no notici�rio � a especialidade. Causa estranheza que pris�o em massa de supostos milicianos n�o haja entre eles agentes do Estado. A atua��o do Estado � margem da lei � o ingrediente principal na produ��o de justiceiros ou milicianos. O primeiro grupo de homens autorizados a matar, designado 'esquadr�o da morte', foi montado em 1957 no Rio de Janeiro e tinha um general no comando. O grupo foi ampliado e o governador Carlos Lacerda o condecorou como 'Homens de ouro da pol�cia'. Difundiram-se para a repress�o pol�tica e formaram outros grupos: m�os brancas, grupos de exterm�nio e justiceiros. Este foi o processo de desenvolvimento do terror paramilitar que hoje se denomina mil�cia.

Mil�cia � grupo privado em associa��o com agentes p�blicos. A partir de 1995 os grupos privados foram combatidos e ampliada a estatiza��o. At� ent�o "matadores privados" usavam armas apreendidas e acauteladas em cart�rios criminais e, para um toque de oficialidade, alguns tinham carteira de oficial de justi�a 'ad hoc' que garantia porte de arma. Em tempo anterior, na Baixada Fluminense, um promotor do j�ri era s�cio de um comandante de batalh�o de policia numa distribuidora de bebidas. Policiais e ex-policiais faziam a seguran�a do dep�sito e nos caminh�es de entrega.

Marielle se opunha � trucul�ncia do Estado e dos grupos tacitamente legitimados a praticar ilegalidades a pretexto de prestar seguran�a. Ela n�o foi v�tima de uma bala perdida, atingida durante um assalto ou vitima de feminic�dio. Marielle foi executada por m�os profissionais. Somente a interface de agentes do Estado com ex-agentes ou a ind�stria da morte seria capaz de tal atrocidade.

Numa sociedade marcada pela contraposi��o do �dio � generosidade, da dieta � fome, da riqueza � pobreza, do latif�ndio improdutivo ao sem terra, da especula��o urbana imobili�ria ao sem teto, Marielle difundia o desejo de viver com abund�ncia. Ela se disp�s a ocupar um lugar que somente numa democracia poderia ser por ela almejado. Os donos das coisas e seus capangas n�o permitiram o sonho coletivo que ela sintetizava.

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Jo�o Batista Damasceno, colunista do DIA Divulga��o

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