Ministério Público do Rio tem 30 inquéritos contra PM na Rocinha

MP vai encaminhar ofício à delegacia pedindo informações sobre registros feitos nos últimos dias. Nesta segunda, novo confronto entre PMs e bandidos aconteceu na localidade 199, mesmo dia em que dois jovens assassinados no sábado foram enterrados

Por RAFAEL NASCIMENTO

Mulher acusa PMs de agressão na Rocinha
Mulher acusa PMs de agressão na Rocinha -

Rio - O Ministério Público já instaurou mais de 30 inquéritos sobre a atuação da PM na Rocinha. Moradores disseram que foram espancados, ameaçados, roubados e tiveram suas casas saqueadas pelos militares. Todos os crimes foram nos últimos 6 meses.

"Amanhã (hoje) vamos encaminhar um ofício à delegacia pedindo informações sobre os registros feitos nos últimos dias sobre possíveis arbitrariedades cometidas pelos agentes. Temos ciência de agressões cometidas por PMs", afirmou o promotor de Justiça e coordenador da Primeira Central de Inquérito, Marcelo Muniz Neves. O morador que quiser denunciar ameaça ou agressão deve ligar no 127.

Denúncia de truculência

Na Rocinha, o clima de insegurança continuava nesta segunda-feira e moradores relataram episódios de truculência da PM. Em um dos casos, a artesã Ana Letícia Silva de Souza, 43, ao passar pela Via Ápia, viu três policiais abordando um rapaz que havia acabado de sair do banco. Sem identificação, o homem foi algemado para ser levado à 11ª DP. Ana começou a filmar, mas alega ter sido agredida por um militar com um cacete. Segundo ela, o PM quebrou um de seus celulares. Ana teria levado tapas, socos e até spray de pimenta. Ela acabou detida e seu sobrinho, de 16 anos, também, pois entrou na confusão.

"Bateram no meu rosto, me agrediram de tudo quanto é forma. Falaram que todo mundo na Rocinha é bandido", disse Ana. Segundo ela, os policiais estavam sem identificação na farda. "Os nomes estavam escondidos", completou. "Estamos ouvindo as duas partes. A PM fala que foi abordar um homem e houve resistência. Vou avaliar se houve excesso da polícia. Tirar a identificação é uma infração e eles podem ser punidos", contou o delegado Carlos Rangel, da 11ª DP (Rocinha). A Polícia Militar não quis comentar a agressão.

Homem morre em mais um dia de tiroteio na Rocinha

Pouco mais de 24h após a morte de oito pessoas por circunstâncias ainda não esclarecidas pela Polícia Civil a comunidade da Rocinha voltou a ter confrontos entre militares e criminosos. Na manhã de ontem, a troca de tiros aconteceu quando agentes do Bope patrulhavam a localidade conhecida como 199 e se depararam com bandidos. Durante o confronto, um homem, apontado como suspeito pela polícia, foi baleado, socorrido ao Hospital Miguel Couto, na Gávea, mas não resistiu. Com ele, os agentes encontraram um fuzil.

No Cemitério do Caju, a família de Matheus da Silva Duarte Oliveira, de 19 anos, morto em operação da PM na comunidade no sábado, deu o último adeus ao rapaz. Sem nenhuma passagem pela polícia, Matheus foi morto com pelo menos três tiros de fuzil, segundo a família. Um dos disparos acertou as costas do jovem. Os parantes de Matheus afirmaram que a polícia teria entrado na comunidade atirando, pouco depois do término de um baile funk.

Márcio da Silva, pai de Matheus Duarte, carregou um quadro com a foto do filho do durante o enterro - Luciano Belford

"Quero só que o estado me dê uma resposta sobre quem matou meu filho", disse o pai do jovem, o cobrador Márcio da Silva Duarte, 45, que durante todo o cortejo segurava quadro com a foto de Matheus, que havia se tornado pai há um mês. Ontem, também foi enterrada, no Cemitério do Catumbi, outra vítima do tiroteio, Júlio Morais de Lima, 22.

A Divisão de Homicídios não fez perícia nos locais onde os mortos foram encontrados. Todos os PMs envolvidos na operação prestaram depoimento e as dez armas dos agentes foram recolhidas. Além disso, um exame residuográfico foi feito em Matheus. A PM afirmou que todos os mortos eram bandidos e estavam ligados ao tráfico. No entanto, no dia seguinte ao episódio, a Polícia Civil disse que apenas quatro dos mortos tinham alguma participação com o tráfico de drogas na comunidade.

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Mulher acusa PMs de agressão na Rocinha Severino Silva
Márcio da Silva, pai de Matheus Duarte, carregou um quadro com a foto do filho do durante o enterro Luciano Belford

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