Janelas e ruas de São Sebastião

Por João Baptista Ferreira de Mello Prtofessor e coordenador dos Roteiros Geográficos do Rio/UERJ

João Baptista Ferreira de Mello, coordenador dos Roteiros Geográficos do Rio da Uerj e colunista do DIA
João Baptista Ferreira de Mello, coordenador dos Roteiros Geográficos do Rio da Uerj e colunista do DIA - Divulgação

Com a chegada da Família Real, as janelas do Rio passaram a ter vidro. O Príncipe Regente, Dom João, assim ordenou. A Corte estava na cidade e a qualquer momento poderia passar e era para ser vista e reverenciada.

Há muito tempo, em contraste com a exuberante beleza do Rio de Janeiro, suas janelas estão vazias. Há pessoas apenas nos romances, no imaginário da fofoqueira da vila, ou no lirismo do samba-canção Carolina, de Chico Buarque, aquela do "...O tempo passou na janela/ e só Carolina não viu". Senão consideremos...

Na Urca ou na Lagoa ou mesmo na orla de Copacabana, as janelas estão desertas, apesar do esplendor da Cidade Maravilhosa. No Centro, os edifícios plenos de vidro, aço, concreto enclausuram as pessoas em seus interiores. Impossível abrir alguma fresta naquelas imensas torres ou towers, como se denominam os artefatos de vários pisos, nos dias de hoje. O mesmo sucede nos shopping centers. Por toda a cidade, as janelas, sacadas e varandas estão, intrigantemente, despovoadas, esperando apenas pelo retumbar de alguma banda, ou manifestação política ou cultural e quem sabe alguma procissão religiosa ou uma tragédia anunciada.

Varandas e sacadas encarecem o valor do imóvel. São objetos de desejo e símbolos de status. No entanto, sem uso ou serventia, a julgar por um simples olhar dirigido para esta Olímpica e Maravilhosa Cidade, Patrimônio Mundial da Humanidade. Olhe da janela para os outros apartamentos e casas. O panorama é desconcertante. Luminosas manhãs, belas paisagens e noites com seus mistérios de sempre estão sem espectadores neste Rio de São Sebastião e de toda gente. Provavelmente janelas virtuais e de toda espécie se abrem descortinando telas de computadores, TVs ou em leituras.

As ruas dos bairros nobres estão, vale repetir, igualmente vazias. As pessoas de alta renda se segregam, se isolam, em bairros cercados de verde, silêncio e outras amenidades. Quanto mais alta a renda, menos gente há nos logradouros.

No entanto, quando o comércio e os serviços se impõem, o alarido e o corre-corre das pessoas preenchem de vida, ritmo e vozeria as ruas do Rio. O mesmo pode ser evidenciado na periferia e nas comunidades, com as ruas, becos e vielas utilizados como extensão da casa, assumindo continuidades, trocas, passos, itinerários e encontros. Neste frenesi, ecoam os tambores e as flechas de São Sebastião do Rio de Janeiro.

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