Irm�os transexuais venceram obst�culos para achar a felicidade

Hist�rias da vida real mostram a dificuldade e a determina��o de quem conclui que precisa mudar de sexo no Brasil

Por O Dia

Rio - O personagem Ivan, interpretado por Carol Duarte na novela 'A For�a do Querer', foi, para milhares de brasileiros, o primeiro contato com a figura dos homens transexuais. As personagens de mulheres transexuais s�o vistas h� mais tempo na TV aberta. Os autores enfrentam o desafio de evitar estere�tipos ofensivos na hora de represent�-las. Em comum, homens e mulheres trans carregam o desejo de adequar seus nomes e corpos ao g�nero com o qual se identificam, vontade que n�o pode ser contida nem mesmo pelo preconceito que enfrentam e que parte, muitas vezes, de suas pr�prias fam�lias.

B�rbara e Thiago Aires - Irm�os Trans�lbum de fam�lia

� o caso dos irm�os Barbara e Thiago Aires, ambos transexuais. Quando acreditava ser um menino homossexual, Barbara sofreu preconceito da fam�lia e morou nas ruas de S�o Paulo dos 5 aos 12 anos de idade, quando foi para um abrigo, onde ficou at� os 15 anos. Ela ent�o assumiu sua transexualidade e, aos 18, come�ou a tomar horm�nios e adequar seu corpo ao g�nero feminino. "Sou filha de um policial militar, hoje idoso, conservador, que nunca aceitou isso. Sou uma mulher trans. A prova viva de que identidade de g�nero e sexualidade n�o s�o influenci�veis, s�o inerentes ao ser humano".

Poucos anos depois, Thiago se assumiu transexual. "Aos 13 anos apareceu usando bon�, roupas largas, cabelo cortado, e disse que era Thiago. Como ele era menor de idade, tive o cuidado de n�o conversar com ele sobre isso, para o meu pai n�o achar que eu estava influenciando", disse Barbara.

'J� uso nome social. Estou prestes a pegar meu laudo psiqui�trico%2C que vou usar paracome�ar a mudar meus documentos'%2C diz Thiago Aires�lbum de fam�lia

Quando Thiago completou 18 anos, p�de procurar ajuda m�dica especializada e iniciar sua transi��o. "J� uso meu nome social na carteirinha de estudante e tamb�m sou tratado no masculino no trabalho. Estou prestes a pegar meu laudo psiqui�trico, que vou usar para come�ar a mudar meus documentos", contou ele, que est� prestes a completar 22 anos, cursa o 3� ano do Ensino M�dio e acaba de ser contratado em seu primeiro emprego formal, como auxiliar de vendas.

Barbara hoje mora no Rio de Janeiro, e namora um homem transexual, que j� passou pela mastectomia e pela histerectomia (retirada dos seios e do �tero): "O Thiago se espelha muito nele".

Ela � militante LGBT h� cerca de dez anos e trabalha como assessora parlamentar do vereador David Miranda (PSOL), tamb�m ativista da causa. "Abracei porque a luta me diz respeito. Almejo o dia em que a sociedade pare de genitalizar as pessoas. Consideram que a mulher � uma vagina, e o homem, p�nis. Quando isso mudar, vamos poder seres humanos", enfatizou.

O casal de irm�os diz que espera a evolu��o de pol�ticas p�blicas que atendam � popula��o trans. "Infelizmente ainda erram muito. Desconsideram o nome social, ou me tratam no feminino", lamentou Thiago. Para Barbara, a solu��o do problema passa pela educa��o: "A luta LGBT � apagada do ensino de hist�ria, por exemplo. E os alunos crescem achando que essas pessoas s�o anormalidades. Quando houver esse conhecimento, vir� um efeito domin�. Teremos mais pessoas trans confort�veis para estar nas escolas, no mercado formal de trabalho e outros espa�os".

Gabriel Reibolt (ao centro)%2C tem apoio da fam�lia para a sua transi��o%2C que iniciou h� cerca de dois anos�lbum de fam�lia

'Acostumaram a me chamar no masculino'

Ao contr�rio do personagem Ivan, que na trama tem sua identidade de g�nero desrespeitada por seus familiares, o tamb�m homem transexual Gabriel Reibolt, 23, conquistou o apoio da fam�lia para a sua transi��o, que iniciou h� aproximadamente
de dois anos. �Eles demoraram a se adaptar. Mas h� seis meses conseguiram se acostumar a me chamar no masculino. Hoje todos lidam bem, pais, av�s�, afirma.

�Nunca passei por situa��es que me deixassem para baixo, nunca bati boca, nunca me apontaram na rua. Certamente algumas pessoas falam por tr�s, mas nunca me desrespeitaram�, completa. Para a psic�loga Melcina Moreno, que j� atendeu mais
de 50 pacientes transexuais, � importante que os amigos e familiares da pessoa transexual procurem se informar sobre o assunto: �� bom buscar conhecimento, e com ele, ter empatia pela dor que essa pessoa sente. Esse respeito consigo mesmo e com o familiar trans � amor genu�no�, afirma ela, ressaltando que � fundamental que cada pessoa respeite seu pr�prio tempo para assimilar a quest�o.

�Quanto a aceitar, n�o existe aceitar ou n�o. � reconhecer o fato, viver com ele e ver a pessoa trans ficar mais feliz a cada passo em dire��o � harmoniza��o entre o seu mental e emocional com o seu corpo f�sico�, completa.

Personagem que divide opini�es

A representa��o dos personagens trans nas novelas divide opini�es. Barbara Aires
elogiou as cenas de Ivan, mas ressalvou: �A personagem Elis (Silvero Pereira), na mesma novela, tem sido criticada pelo movimento. Tem havido confus�es dos termos trans, travesti, gay�. 

J� Thiago achou alguns momentos de Ivan muito agressivos: �� ruim mas por outro lado chocar as pessoas pode sensibiliz�-las. Fora isso acho muito bom, mostra o que a pessoa trans passa com a fam�lia e a sociedade�. A m�dica Melcina Moreno tamb�m elogiou: �A abordagem da Gloria Perez � cautelosa e did�tica�.

Reportagem da estagi�ria Nadedja Calado, sob supervis�o de Ang�lica Fernandes

�ltimas de Rio De Janeiro